Eu acho engraçado... Tantas páginas na internet e pessoas que eu conheço dizem que cada sofrimento é válido, que ninguém sabe do sofrimento de outro e que se alguém diz que sofre preconceito é preciso prestar atenção, dar força e ficar do lado dessa pessoa pra que consiga passar por momentos difíceis que venham a acontecer por conta disso. Então por que menosprezam quando alguém diz que sofreu por ser "magro demais", por exemplo? O termo "magrofobia" pode até não existir, mas será que só por isso o preconceito também não existe? Não estou escrevendo isso só por mim, porque sei que tenho amigas e amigos que sofreram do mesmo jeito. Mas vou usar minha vida como exemplo. Nunca tive o peso adequado para a minha idade ou altura. Cansei de ouvir, quando era mais nova, que ninguém ia se interessar por mim, ninguém ia querer ser meu amigo ou conversar comigo. Tudo isso por ser "magra demais" e "ter aparência de doente". E, pasmem: ouvia isso de membros da minha própria família. Agora, demais mesmo era ir pra escola e escutar as piadinhas e apelidos. "Parece um alfinete", "se virar pro lado some", "cuidado pra não cair nas rachaduras do pátio e não conseguir voltar!", "se um carro passar e você estiver no meio-fio é perigoso você sair voando". Você acha que isso incentiva a comer mais? Pois é, não incentiva. Por esses e outros motivos, o ensino médio foi a época em que eu mais emagreci, menos fiz amigos, mais me fechei e mais fiquei quieta na minha. Eu era uma adolescente de 16 anos que pesava 43 quilos. Dava pra contar minhas costelas, ver meus ossos dos ombros... era horrível. E todo mundo dizia isso. E eu sentia isso. E cada vez eu emagrecia mais. Me lembro que, em uma semana, perdi 5kg. Aí você pensa que a família e amigos tentaram ajudar? Tentaram avisar que eu estava mal e me indicaram médicos? Me deram remédio? Apoio? Não, não foi assim. As piadas só aumentaram. E tudo que eu comia me fazia mal. Desenvolvi uma gastrite nervosa que eu nunca havia tido na vida. A ponto de cogitarem fazer uma cirurgia porque estava com uma pequena úlcera surgindo. Meu corpo rejeitava tudo que eu comia. E eu achava que aquilo era normal. Isso é o pior. Parecia que eu estava sofrendo aquilo tudo por eu estar fora dos padrões, mas quando eu engordasse ia melhorar tudo. Hoje, quatro anos depois, ainda não estou no meu peso ideal, mas já pareço mais "normal". E, ainda assim, não me sinto como tal. As piadas não pararam, não parei de escutar tudo aquilo que ouvia antes. O que mudou foi que aprendi a me controlar, me tratei contra meus problemas físicos e melhorei minha mente. Os comentários não me abalam tanto. Eu tenho plena consciência de que hoje em dia eu estou muito melhor que antes. Mas ainda não consigo me olhar no espelho e me sentir satisfeita. Quem me conhece sabe. Sempre acho que estou muito abaixo do peso. E se engordo um pouco fico feliz, mas logo me sinto culpada. Nunca cheguei ao ponto de anorexia ou bulimia, mas tenho certeza de que se fosse alguém com uma mente não tão estabilizada, seria fácil chegar lá. Agora, me diz uma coisa... Esse preconceito não existe? Não menospreze o sofrimento de alguém. Ele ou ela pode precisar de você mais do que você imagina.
~Larissa Pestana 24/05/15