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Foto do escritor: Lari PestanaLari Pestana

Eu acho engraçado... Tantas páginas na internet e pessoas que eu conheço dizem que cada sofrimento é válido, que ninguém sabe do sofrimento de outro e que se alguém diz que sofre preconceito é preciso prestar atenção, dar força e ficar do lado dessa pessoa pra que consiga passar por momentos difíceis que venham a acontecer por conta disso. Então por que menosprezam quando alguém diz que sofreu por ser "magro demais", por exemplo? O termo "magrofobia" pode até não existir, mas será que só por isso o preconceito também não existe? Não estou escrevendo isso só por mim, porque sei que tenho amigas e amigos que sofreram do mesmo jeito. Mas vou usar minha vida como exemplo. Nunca tive o peso adequado para a minha idade ou altura. Cansei de ouvir, quando era mais nova, que ninguém ia se interessar por mim, ninguém ia querer ser meu amigo ou conversar comigo. Tudo isso por ser "magra demais" e "ter aparência de doente". E, pasmem: ouvia isso de membros da minha própria família. Agora, demais mesmo era ir pra escola e escutar as piadinhas e apelidos. "Parece um alfinete", "se virar pro lado some", "cuidado pra não cair nas rachaduras do pátio e não conseguir voltar!", "se um carro passar e você estiver no meio-fio é perigoso você sair voando". Você acha que isso incentiva a comer mais? Pois é, não incentiva. Por esses e outros motivos, o ensino médio foi a época em que eu mais emagreci, menos fiz amigos, mais me fechei e mais fiquei quieta na minha. Eu era uma adolescente de 16 anos que pesava 43 quilos. Dava pra contar minhas costelas, ver meus ossos dos ombros... era horrível. E todo mundo dizia isso. E eu sentia isso. E cada vez eu emagrecia mais. Me lembro que, em uma semana, perdi 5kg. Aí você pensa que a família e amigos tentaram ajudar? Tentaram avisar que eu estava mal e me indicaram médicos? Me deram remédio? Apoio? Não, não foi assim. As piadas só aumentaram. E tudo que eu comia me fazia mal. Desenvolvi uma gastrite nervosa que eu nunca havia tido na vida. A ponto de cogitarem fazer uma cirurgia porque estava com uma pequena úlcera surgindo. Meu corpo rejeitava tudo que eu comia. E eu achava que aquilo era normal. Isso é o pior. Parecia que eu estava sofrendo aquilo tudo por eu estar fora dos padrões, mas quando eu engordasse ia melhorar tudo. Hoje, quatro anos depois, ainda não estou no meu peso ideal, mas já pareço mais "normal". E, ainda assim, não me sinto como tal. As piadas não pararam, não parei de escutar tudo aquilo que ouvia antes. O que mudou foi que aprendi a me controlar, me tratei contra meus problemas físicos e melhorei minha mente. Os comentários não me abalam tanto. Eu tenho plena consciência de que hoje em dia eu estou muito melhor que antes. Mas ainda não consigo me olhar no espelho e me sentir satisfeita. Quem me conhece sabe. Sempre acho que estou muito abaixo do peso. E se engordo um pouco fico feliz, mas logo me sinto culpada. Nunca cheguei ao ponto de anorexia ou bulimia, mas tenho certeza de que se fosse alguém com uma mente não tão estabilizada, seria fácil chegar lá. Agora, me diz uma coisa... Esse preconceito não existe? Não menospreze o sofrimento de alguém. Ele ou ela pode precisar de você mais do que você imagina.

~Larissa Pestana 24/05/15

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Foto do escritor: Lari PestanaLari Pestana

A calmaria depois da tempestade

 

Hoje é o primeiro dia, depois de muito tempo, que me sinto bem. Melhor que isso: me sinto feliz.

Acordei feliz por ser dia de ir à academia e ao pilates. Feliz por ter uma consulta marcada com a psiquiatra (será que tem a ver?). Incrivelmente feliz por ter voltado a gargalhar com a minhas séries e sonhar com minhas leituras.

Acordei, abri as janelas, tomei meu café da manhã, fiz meus exercícios, tomei um bom banho... tudo com um sorriso no rosto.

Mas eu não posso evitar pensar que isso é só uma fase e que, daqui a uma hora, um dia, uma semana ou um mês, eu posso estar de novo na cama, chorando sem saber o porquê, sem vontade de sair de lá.

Mas quer saber? Na verdade eu posso, sim. Posso evitar esses pensamentos e focar no aqui e agora, no presente, no meu bem-estar.

E é isso que eu vou tentar fazer. E espero que você, que está lendo isto, também tente e, mais que isso, consiga!

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Foto do escritor: Lari PestanaLari Pestana

E eles têm que mudar mesmo?


Esses dias, recebi da minha mãe um texto que muita gente por aqui já deve ter lido. Um texto que fala sobre o desgosto que alguns pais têm por terem dado “tantas oportunidades, celulares tops, carros […]” aos seus filhos… que acabaram por começar a “agitar a bandeira do comunismo de Marx”.

Eu simplesmente não entendo.

Me educaram a cumprimentar desde o faxineiro até o chefe de uma empresa. A tratar todos com respeito, porque ninguém é melhor que ninguém. Me ensinaram que eu mesma não sou melhor que ninguém. Que eu preciso ouvir e entender que cada pessoa tem sua história. Cada pessoa tem seu ponto de vista. E cada pessoa deve ser tratada bem, deve ser tratada como ser humano, independente de sua etnia, classe social, sexualidade ou qualquer outra coisa. Me ensinaram a ter valores morais e éticos.

Também me ensinaram que meu corpo é só meu e que ninguém tem o direito de abusar dele, de qualquer forma que seja. Que eu tenho que me prevenir, não criando uma situação favorável a algo ruim, mas que, caso aconteça, eu devo denunciar, ir atrás de justiça. Fazer um escândalo. Porque é necessário.

Também me ensinaram a ter amor pelo próximo. Me ensinaram a ajudar sempre que possível. Me instruíram a doar bens materiais, mas também amor, carinho e atenção a quem precisasse, Me ensinaram a fazer o bem sem olhar a quem. E me ensinaram que não sou ninguém pra julgar, que quem faz isso é a força divina (aquela que os cristãos chamam de Deus).

Também me ensinaram coisas bem pontuais. Me ensinaram a respeitar o coleguinha gay e a parente lésbica. Me ensinaram que temos que aceitar as diferenças, que elas existem e estão aí para mostrar que nenhum ser humano é especial, ao mesmo tempo que todos o são. Já que cada um é diferente do outro à sua maneira.

Me explicaram que aquele coleguinha que às vezes ia com a mesma roupa todos os dias da semana talvez não tivesse as mesmas chances que eu tive na vida e, por isso, era importante que eu o respeitasse e entendesse que a situação dele era diferente da minha. Mas que ele também merecia ter amigos, como qualquer outra pessoa.

Me ensinaram que dinheiro não é tudo. Que é bom, mas não é tudo.

Me mostraram pessoas abastadas em bens materiais, mas pobres de amor pelo próximo. E me mostraram moradores de rua que dariam a própria roupa do corpo para cuidar de um animalzinho machucado na rua, sem nem pensar duas vezes.

Me ensinaram também que é saudável escutar as pessoas e aprender com elas, mas que também é importante pensar por si mesmo. Me ensinaram que os pais são modelos a serem seguidos, mas que pai nenhum quer que seu filho seja uma cópia. Na verdade, sempre querem que os filhos sejam melhores.

E aí eu cresci.

E aí eu aprendi que esses ensinamentos às vezes mudam. E às vezes não significam muita coisa para quem os ensinou.

Porque eu respeito a comunidade LGBT. Eu entendo que negros passam dificuldade e que pessoas com menos oportunidades que eu existem no mundo. Entendo também que animais sofrem todos os dias por conta de maus tratos que alguns seres humanos fazem questão de fazer, só por se sentirem superiores. Eu sei também que mulheres sofrem abusos de todas as formas diariamente, e seguem sendo vítimas de crimes inacreditáveis, e eu sou uma delas e posso passar por isso a qualquer momento. Sei também que deficientes precisam de auxílio e de políticas públicas que garantam sua inclusão na sociedade.

Na verdade, eu aprendi muito bem. Eu aprendi que todos são iguais perante a Lei, e que assim devem ser tratados.

Mas hoje, quando demonstro qualquer tipo de apoio a essas e outras causas, sou chamada de burra. De comunista. Sou questionada de todas as formas, não acreditam mais que fui bem criada. Se perguntam onde erraram. Dizem que sou petista. Logo eu, que nunca votei no tal partido vermelho…

Eu queria saber quando foi que pensar além do próprio umbigo virou comunismo. Eu queria saber onde estão as pessoas que acompanharam meu crescimento, que ouviam rock, MPB, rap comigo, elogiavam as letras da músicas que eu ouvia e diziam acreditar no que estava sendo dito.

Cadê aquela sensação de segurança, de crença num futuro melhor? Onde está a tolerância em relação a pensamentos divergentes? Se aprendi tudo isso, foi graças à ótima educação que tive em casa. Foram valores passados dentro do meu lar. E eu amo ser quem eu sou e não tenho vergonha alguma disso. O que me dói é ver pessoas que acompanharam meu crescimento, contribuíram com ele, me educaram, me garantiram a ótima educação citada no tal texto repassado por WhatsApp… me xingando, desacreditando de mim. Achando que estou perdida, que sofri lavagem cerebral. Isso magoa e muito.

Se você não acredita mais nos ensinamentos repassados, sinto muito. Mas fui criada assim e ainda amo muito a forma como penso. Sou sensível, emotiva e bastante sonhadora. E espero seguir assim pelo resto da minha vida. Por tudo isso e muito mais, sou resistência. E sigo lutando pelos meus, seus e pelos direitos de todos aqueles que conheço e também daqueles desconheço. A luta não é minha? Fui ensinada a combater injustiça, seja ela qual for.

O ódio deve ser rebatido com amor. Isso eu aprendi muito bem.


~ Lari Pestana - 27/10/2018

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